quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tears...

(Esta história passa-se num dia como todos os outros, um dia calmo em que supostamente não acontece nada. Neste dia uma menina aparentemente normal, sem nada de mais ou para estranhar, sentou-se no chão do corredor encostada a robusta parede que suportava o edifício.)

Estranho, quando o vento passa sinto uma frescura esquisita no meu rosto.
E aqui está ela de novo! O que é isto?
Porque brilha tão suavemente a mão que levei ao rosto? Porque é que a sinto tão húmida?
Porque é que estão frias as minhas bochechas? Porque é que vejo tudo como se tivesse mergulhado numa piscina?! De onde vem esta água toda?

(Foi exactamente depois de proferir esta ultima palavra, que uma voz, nunca antes conhecida, grave e serena, sem fonte á vista lhe sussurrou)


- Olá Querida, á muito tempo que não te visitávamos. Já não te lembras de nós?

O que são vocês? O que querem de mim? Porque é q me molham assim?


- Nós, somos as lágrimas. Não te preocupes, não te queremos mal. Estamos aqui em nome do teu coração, da tua alma, que se encontram em muito mau estado, tal como tu. Viemos ajudar-te a melhorar!


Como é que verter água dos olhos, molhar a t-shirt enquanto me tento secar e pingar do nariz, pode ajudar seja quem for?! Não vêem que só pioram tudo?! DEIXEM ME EM PAZ! Eu estou bem!


- Não estás a verter água, estas a chorar minha menina.Aposto que sentes um grande peso no peito, que te sentes quente e te começa a doer a cabeça. Estarei certa?

Como é que sabem isso tudo? São vocês que estão a provocar este mal estar horroroso?! É assim que me vão ajudar? Fazendo me sentir fraca e desprotegida?! Desculpem...mas isto simplesmente não faz sentido.


(Passaram alguns minutos e a menina continuou, ali sentada sozinha no chão. O peito dela tal como a voz grave e baixinha havia dito, parecia estar a ser esmagado por um camião enorme, a sua cabeça não conseguia reter qualquer tipo de pensamento, tudo lhe fugia por entre os dedos, não tinha a certeza do que tinha feito antes, nem do que iria fazer a seguir, ela apenas NÃO SABIA O QUE FAZER OU SEQUER O QUE TINHA FEITO DE ERRADO. Sentia-se frágil, insegura, perdida, a sua cabeça parecia estar a inchar cada vez mais, estando pronta para rebentar de tal era a dor agoniante que aquele estranho rio de água e sal provocava. Juntou os joelhos ao peito e com os olhos envoltos num vermelho de sangue olhou para a frente e começou a soluçar. Novamente a voz retomou ainda mais calma que antes)


- Sabes querida, esses rios que escorrem pelas tuas rosas bochechas são todas as mágoas e infelicidades que o teu coração tem guardado para si, são as desilusões que sentiste, as traições que viste acontecer, são as saudades que sentes, são tudo aquilo que te magoou em tempos e que nunca superaste totalmente. Todas estas dores que sentes, especialmente no peito, representam o esforço que o teu corpo está a fazer para te ajudar, para melhorar para retirar de ti esse veneno que te mata aos poucos.


Mas isto doí tanto! Eu antes estava melhor...Isto doi tanto! Nem pensar consigo e questiono tudo e mais alguma coisa? Não há outra maneira? E por mais que tente parar...elas escorrem cada vez mais! E se as prendo, a cabeça grita, as costas queimam e a garganta sufoca!


- Eu sei, eu sei que doí, é o coração é o teu corpo dorido a falar, a curar as tuas feridas de uma vez. Ainda vais chorar mais umas vezes, mas garanto-te que um dia vai passar e vai doer cada vez menos, até que um dia vais acordar e vais voltar a sorrir como sorrias antes de o teu tecto se desmoronar na tua cabeça, vais te sentir forte e vais saber exactamente o que queres.


(A rapariga, retomando agora um pouco mais de cor e não oferecendo qualquer resistência as lágrimas que lhe rolavam pelos olhos abaixo, esticou as pernas e pôs as mãos á cabeça, os seus olhos brilhavam confusos, magoados e frágeis, estavam no entanto cheios de ternura, não se via qualquer rancor ou raiva. Fungou ligeiramente e á voz respondeu)

Eu guardei para mim tudo isto, que me faz chorar agora neste momento, porque não achei que devesse mostrar que me afectaram aquelas palavras, aquelas acções injustas. Magoaram me muitas vezes, e eu...juro que nunca fiz nada de mal de propósito. Eu não merecia isto! Por mais bruxa que tenha sido...eu não merecia isto desta maneira!E eu não sei o que fiz para merecer isto tudo!


- É normal. Nem sempre deves demonstrar que te sentes mal, nem toda a gente merece que mostres. É para isso que serve chorar! Para deitar tudo isso para for. Acredito que não tenhas merecido, ninguém merece, nem aqueles que magoam outras pessoa. Pode não parecer, mas chorar vai fazer mesmo bem a tudo isso que sentes e que escondes debaixo de uma grande camada de força de vontade e dignidade. 

Eles nem merecem isto que sinto! Depois do que sofri! No entanto, não me arrependo, só me sinto estúpida por ser a única que ainda se sente triste ou que se sentiu triste alguma vez.

- Nunca te arrependas das coisas que fazes, se tiveres errada, tens que saber pedir desculpa, mas se não houver situação de errado ou certo, não te arrependas, na altura quiseste fazê-lo. Não te sintas mal por estar triste, isto só significa que deste o coração que sentiste algo forte, que sentiste de verdade! Deves ter orgulho dessas lágrimas que te doem agora!


(A menina lavou a cara e esboçou um sorriso, de seguida baixou os olhos e assim ficou quieta, deixando as lágrimas e os soluços saírem naturalmente. Com o tempo foi visitada mais umas quantas vezes, mas nunca mais ofereceu resistência as suas amigas de amargura, foi encontrando ombros que a confortavam, braços que a protegiam, mãos que a agarravam quando estava prestes a cair mas nunca teve vergonha de lhes mostrar as suas lágrimas. Tirem daqui as vossas lições, identifiquem-se e acreditem que nunca estão tão sozinhos como pensam.)

Sem comentários:

Enviar um comentário