quarta-feira, 4 de maio de 2011

I miss you...I made a mistake....I won't do it again

I MISS YOU!

Passei o dia a ser a criança que era antes, doce, calma e sem maldade.
O meu avô sentou-se no sofá e eu como fiel e leal companheira sentei-me na barriga dele, claro que já lá não cabia, mudei-me para o lugar ao lado e a minha cabeça poisei na sua grande pança de pai natal.

Ao jantar, servi-o e mimei-o o mais que pude enquanto olhava carinhosamente para a careca que a meses lá não estava e agora, tão timida e discreta, rosinha e brilhante, espreitava por entre finos fios de cabelo branco.
Uma voz familiar disse-me "Tas demasiado doce, que se passa?" e eu, no tom baixo que uso hoje respondi melancolicamente "nada, só quero cuidar do que é meu". Outra voz familiar ecoou "Cuida bem dele, pois é o único que tens".


É o único que tenho. É o único que tenho. É o único que tenho.
Como soa mal aquela pequena palavra ali no meio...Único
Mas pois é a verdade, só tenho um, costumava ter dois, mas agora só tenho este, que cada vez me parece mais fraco, é grande e enorme como um gigante, o que contrasta com os seus pequenos olhos esverdeados, como os de um chinês, mas vejo-o cada vez mais encolhido nesta terra que ele tanto amou e que agora só o faz cair de cada vez que planeia algo de bom, como vejo a desilusão nos olhos do homem que me ensinou de que todos podemos fazer a diferença, do homem que durante 7 longos anos me ensinou o que sei agora, construiu a mulher forte que sou agora, o homem de cabelos negros que conheci que me levava a passear e me dizia "escolhe um barco querida, qual queres?" e eu inocentemente dizia "quero aquele ali vô, dou-te um dólar", o homem que me disse "querida neta, quando te deixarem cair, levanta-te, não mostres fraqueza, dá-lhes a outra face para verem de que és feita".

É o único que tenho, e por ele farei tudo.

Como sinto a falta do outro homem da minha alma, do homem que me mostrou reservadamente e sem expressar o que sentia, sem mostrar afecto grandioso, a paixão de pegar numa caneta de tinta e fazê-la deslizar pelo papel. Um homem doce e reservado que amava o papel mais do que qualquer coisa, que mostrava o seu afecto quase exclusivamente as linhas que guardavam as suas amarguras.
Sinto a falta de o ver, alto e esguio, aspecto frágil e sem expressão e no entanto tão forte quando tinha a caneta ou a enxada na mão.
Senti-o ir-se aos poucos e não tive a coragem de lhe dizer o quanto o amava. Digo agora por cartas, que ele nunca receberá, aquilo que um dia em pensamentos disse e não tive coragem para lhe dizer.

Cometi um erro, deixei-o ir, sem o mimar, sem o acariciar. Usei as técnicas dele, aprendi minuciosamente a paixão dele, escrevi como ele escrevia, mas eu escrevo bem o meu avô, tinha um dom. Leu algumas coisas escritas por mim, poemas como os dele, mas eu deixei-o ir, sem lhe mostrar as minhas obras-primas, sem lhe mostrar o que ele influenciou em mim.

Cometi um erro, não volta a acontecer!
Tenho mais uma e última hipótese de mostrar as minhas almas, ás pessoas que me tornaram gente, aquilo que sou e aquilo que aprendi baseando me nelas.
Prometi honrá-las, cada uma á sua maneira e vou fazê-lo.

Sinto a sua falta avô
Não volto a desiludi-lo

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